terça-feira, 4 de setembro de 2007

"Tive a sorte de possuir vários amigos admiráveis, e contam-se muitas anedotas sobre eles. Algumas dessas anedotas- lamento, mas me orgulho em revelar- foram cunhadas por mim. Entretanto não são falsas; são essencialmente verdadeiras. De Quincey dizia que todas as anedotas são apócrifas. Creio que, cuidasse ele em se aprofundar no assunto, teria dito que são historicamente apócrifas, mas essencialmente verdadeiras. Se contam uma história de uma pessoa, então essa história se parece com a pessoa; essa história é seu símbolo.Quando penso em amigos meus tão caros como Dom Quixote, o sr. Pickwick, o sr. Sherlock Holmes, o dr. Watson, Huckleberry Finn, Peer Gynt etc. (não estou certo se tenho muito mais amigos), sinto que as pessoas que escreveram suas histórias estavam 'contando- história', mas que as aventuras elaboradas eram espelhos, adjetivos ou atributos daquelas pessoas. Ou seja, se acreditamos no sr. Sherlock Holmes, podemos olhar com escárnio para o cão dos Baskerville; não precisamos temê-lo. Digo, enfim, que o importante é acreditarmos num personagem."- Jorge L. Borges.
Não sabia por onde começar e resolvi postar esse trecho escrito pelo argentino "guardião da biblioteca universal". Nossa, exagerei. Acho até que viajei. Estava tentando preencher a falta de um comentário decente sobre o trecho. Preenchi com ar. Daria no mesmo que dizer: é um trecho excelente do ótimo Jorge Luis Borges, cuja obra é maravilhosa. Minto: assim ficaria melhor.
É que hoje eu estou meio vazio, um ótimo estado para se iniciar um blog. Há dias em que eu fico meio assim, ou isso não passa de uma desculpa pela minha falta de criatividade para postar algo aqui. É que eu não consigo deixar de pensar que alguém pode ler isso. Dizem que sou anti-social, mas não é que eu penso de mim mesmo. Não tenho muita certeza, mas eu me conheço melhor do que os outros e acho que, na verdade, um pedaço de mim é que é insociável. E, no fundo, acho que é esse pedaço que eu pretendo demontrar aqui, por isso estou bloqueado. Ou isso também não passa de uma desculpa.
Aliás, sou meio dado a auto-análise. Eu não suporto pessoas que só falam de si mesmas! Como sou hipócrita... Não, sou sinceramente hipócrita.
Agora que me dei conta: desperdicei J.L.Borges. Mas vou compensar: todo esse nada que eu escrevi é meu símbolo, no sentido borgiano. Interpreto um personagem, o Nada é a minha máscara, usada para ocultar o meu caos interno e minha essência contraditória. Ou isso não passa de uma desculpa. Mas só peço uma coisa: não acreditem nesse personagem e sim no que está por trás dele.
Agora chega, quero separar o autor de sua obra, se é que isso é possível. Estou com náuseas de tanto falar de mim mesmo! Mas escrever qualquer coisa, de certa forma, é estar sempre num estado de vertigem: antes de cada palavra, tem-se a sensação de estar no alto de uma montanha russa.

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